Outubro: mês para ser esquecido
Outubro não teve apenas um dia das bruxas. Foram quase todos eles, os dias, de bruxas. Ao fim do mês, o balanço: o pior mês da bolsa de Tóquio na história, o pior mês das commodities desde 1956, mês em que o problemão dos derivativos cambiais das empresas exportadoras voou num cabo de vassoura sobre nossas cabeças e fez o dólar decolar, o mês em que o Ibovespa foi obrigado a interromper o pregão por cinco vezes.
Nos 31 dias que se passaram, a crise financeira americana se transformou em uma crise sistêmica. Houve uma desconfiança generalizada do sistema financeiro. O resultado foi a disparada dos juros para os empréstimos entre os bancos, o que causou um estrangulamento da liquidez. Isso chegou às empresas e atingiu também as pessoas comuns.
O que vimos é, basicamente, um efeito colateral de dois eventos que aconteceram em setembro: a quebra do Lehman Brothers, dia 15, e a reprovação do pacote americano de US$ 700 bihões pelos deputados, na primeira votação, no dia 29.
A partir do dia 30 de setembro, e pegando todo o mês de outubro, o mercado passou a desconfiar da capacidade dos governos para gerenciar a crise. E a recuperação da credibilidade teve quer ser feita dia após dia, com uma enxurrada de dinheiro não só dos EUA, mas também da Europa, Inglaterra e Japão. No total, mais de US$ 3 trilhões foram colocados como garantia ao sistema financeiro, seja para garantir depósitos ou para comprar carteiras.
O Ibovespa parou os negócios nos dias 6 (duas paralisações), 10, 15 e 22. O índice caiu 24,8%, saindo de 49.541 pontos do fechamento do dia 30 de setembro, para 37.256 pontos, no fechamento de hoje. E chegou a operar abaixo dos 30 mil pontos esta semana.
Várias economias importantes divulgaram retração no PIB, entre eles EUA (-0,3%); Inglaterra (-0,5%). O petróleo teve a maior queda mensal da história: mais de 35%. Cotado a US$ 100,64 no dia 30 de setembro, operava hoje em torno de US$ 67,00.
A mesma coisa aconteceu com a cesta de commodities medida pelo índice CRB, que despencou quase 25%. O dólar disparou frente outras moedas, e a valorização sobre o real chegou a 30%, com a moeda passando de R$ 2,50. O BC brasileiro foi obrigado a intervir no mercado, trazendo a cotação para R$ 2,16, hoje, o que significa uma alta do dólar de 13,6% para a cotação de R$ 1,90 do dia 30 de setembro. O risco-país também subiu, 35%, passando dos 305 pontos ao fim de setembro para 412 hoje.
Vários setores da economia brasileira começaram a apresentar os efeitos da crise. Foram divulgadas queda na produção de veículos no mês de setembro de 4,3% frente a agosto, e a previsão é de nova queda em outubro, que poderá chegar a 10% em comparação a setembro. Nos supermercados, as vendas reais ficaram 5,63% menores de agosto para setembro. Para outubro, a previsão é que haja nova queda. Aos poucos, o consumidor vai mudando seus hábitos por causa da crise.
- É o pior mês da história. Provavelmente, nunca mais veremos tantos eventos como esses em seqüência - sintetizou o gerente de análise da SLW Corretora, Felipe de Faria Viana.
Fonte: Blog da Mirian Leitão
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